sexta-feira, maio 31, 2013

Contardo Calligaris- Somos muitos ou somos poucos?






Hoje vou publicar o Contardo aqui porque me fez rir- está hilário- eu achei- conheço sua ironia.
Adorei me imaginar sentadinha com todos no juízo final.


Da Folha de São Paulo

30/05/2013 

Na sexta passada, imobilizado na av. Nove de Julho enquanto se aproximava a hora da sessão de cinema para qual tinha adquirido meu ingresso, eu pensava que, decididamente, somos muitos. Em compensação, sozinho, à noite, numa fazenda na região do Urucuia, em Minas Gerais, ou numa ilha de Angra, já me aconteceu de pensar que somos muito poucos.
No fim de semana, li o novo livro de Dan Brown, "Inferno" (editora Arqueiro). O romance me divertiu menos do que "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios" (ambos da editora Sextante); mesmo assim, terminei em dois dias.
O tema da vez é o crescimento demográfico. O vilão da história acha que o mundo tem um único problema sério: a humanidade está crescendo de tal forma que, em breve, sua subsistência se tornará impossível.
Todas as inquietações ecológicas (a perspectiva da falta de água potável ou de alimentos, o aquecimento global etc.) seriam, de fato, consequências do crescimento enlouquecido de nossa espécie --fadada a desaparecer por seu próprio sucesso.
Quantos humanos nasceram na Terra desde a aparição do homem? Há estimativas para todos os gostos. Segundo uma delas, mencionada no livro, foram 9 bilhões desde o começo, e 7 desses 9 estão vivos hoje.
A boa notícia é que, se o Juízo Final fosse hoje e todos os mortos voltassem, haveria sem problema espaço para todos ficarmos sentados durante o julgamento divino. Mas o cálculo não deixa de ser inquietante.
Mesmo sem acreditar na estimativa que acabo de mencionar, é certo que o crescimento populacional se acelerou de uma maneira bizarra. Éramos 1 bilhão em 1804, levamos 150 anos para chegarmos a 3 bilhões (nos anos 60), e passamos dos 7 bilhões em 2011. Em 2050 poderíamos ser 10 bilhões.
Obviamente, num primeiro momento, nem todos sofreriam de forma igual --afinal, desde que viajo em classe executiva, nunca encontrei um problema de "overbooking".
Mas, no fim, será que vai caber todo mundo? Não seria honesto desejar grandes epidemias purificadoras?
Ora, enquanto Dan Brown me convencia de que somos muitos, a "Veja" de sábado passado publicou uma matéria de capa sobre as mulheres que decidem não ter filhos. O olho anunciava: "o número de famílias brasileiras sem filhos cresce três vezes mais do que o daquelas com crianças".
Em geral, quanto mais um povo se desenvolve cultural e economicamente (ou seja, quanto mais um povo se parece com o Ocidente moderno e desenvolvido), tanto menor é o número médio de filhos por família.
A explicação desse fenômeno (quase uma regra sem exceções) é que, na cultura ocidental moderna, os filhos são criados e amados na esperança de que realizem os sonhos frustrados dos pais.
E, se essa for nossa expectativa, melhor ter um ou, no máximo, dois filhos, para podermos concentrar nossos esforços na hora de fazê-los felizes. Isso sem contar o número (crescente em nossa cultura) de homens e mulheres que decidem não ter filhos e se concentrar em sua própria felicidade.
Enfim, para que a espécie não encolha, é preciso que, em média, haja 2,1 filhos para cada dois adultos --ou seja, se todos casarem, nove em dez casais devem ter dois filhos e um deve ter três. Uma boa metade da população da Terra (incluindo o Brasil) não está fazendo o necessário para repor seus mortos.
Temporariamente, haverá (já está havendo) deslocamento de populações dos lugares menos modernizados e mais pobres (onde a população ainda cresce) para os lugares mais ricos, onde ela diminui. Mas, e depois disso, se todos se "modernizarem"?
Em conclusão, quem tem razão, "Veja" ou Dan Brown? Vamos desaparecer porque estamos crescendo demais? Ou vamos desaparecer por extinção, como os pandas, que deixaram de se reproduzir como deveriam?
Não sei. Poderíamos sumir numa catástrofe ecológica antes de ter diminuído o suficiente para que a Terra nos aguente --ou antes de ter inventado uma nova maneira de viver, que a Terra aguente melhor. Ou, inversamente, poderíamos minguar até sumir.
De todo modo, a ideia do fim de nossa espécie é fascinante -um alívio, por tornar nossa morte individual menos relevante, e um horror radical, por nos condenar a morrer de novo e para sempre, no esquecimento.
Para meditar sobre nosso sumiço futuro, confira o "O Mundo sem Ninguém", no History Channel (www.migre.me/eLEu2) ou o original "Life After People" (no YouTube), com seu aplicativo para celular.

quinta-feira, maio 23, 2013

La Dame Brune







Pour une longue dame brune, j'ai inventé 
Une chanson au clair de la lune, quelques couplets. 
Si jamais elle l'entend un jour, elle saura 
Que c'est une chanson d'amour pour elle et moi. 

Je suis la longue dame brune que tu attends. 
Je suis la longue dame brune et je t'entends. 
Chante encore au clair de la lune, je viens vers toi. 
Ta guitare, orgue de fortune, guide mes pas.

Pierrot m'avait prêté sa plume ce matin-là. 
A ma guitare de fortune j'ai pris le la. 
Je me suis pris pour un poète en écrivant
Les mots qui passaient par ma tête comme le vent. 

Pierrot t'avait prêté sa plume cette nuit-là. 
A ta guitare de fortune, tu pris le la, 
Et je t'ai pris pour un poète en écoutant 
Les mots qui passaient par ta tête comme le vent. 

J'ai habillé la dame brune dans mes pensées 
D'un morceau de voile de brume et de rosée. 
J'ai fait son lit contre ma peau pour qu'elle soit bien,
Bien à l'abri et bien au chaud contre mes mains.
Habillée de voile de brume et de rosée

Je suis la longue dame brune de ta pensée. 
Chante encore au clair de la lune, je viens vers toi. 
A travers les monts et les dunes, j'entends ta voix. 
Pour une longue dame brune, j'ai inventé 
Une chanson au clair de la lune, quelques couplets. 
Je sais qu'elle l'entendra un jour, qui sait demain, 
Pour que cette chanson d'amour finisse bien. 

Bonjour, je suis la dame brune, j'ai tant marché. 
Bonjour, je suis la dame brune, je t'ai trouvé.
Fais-moi place au creux de ton lit, je serai bien, 
Bien au chaud et bien à l'abri contre tes reins.

http://multishow.globo.com/musica/georges-moustaki/la-dame-brune/

quarta-feira, maio 22, 2013

As ruas do Leblon tremem










Passa no jornal da TV imagens de tanques de guerra.

Quando estive no Rio, houve a invasão da Rocinha e de madrugada tanques saíram pelas ruas do Leblon- eram quatro horas da manhã. Fotografei, mas o cartão da máquina pifou. Olhe, eu tenho ótimo olhar, desenho também, e faço boas fotos.
Perdi tudo.
O jovem da casa onde eu estava hospedada chegou a ver, aliás, meus filhos também viram, assim que cheguei, depois pluft! Sumiu tudo. Fiquei com pena. Eram boas fotos, dava para ver até o relógio digital da esquina da Rua Bartolomeu marcando a hora.
É impressionante o barulho que eles fazem. Assustador. Não lembrava mais- fui a alguns desfiles militares com meu pai, quando menina- em Curitiba, meu pai era militar e vibrava com o exército.
Estes dias amanheci com o radinho subjetivo tocando o Hino da Soldado- pensei: "Só pode ser coisa do meu pai". Lembranças dele que ficaram. rs

"Nós somos da pátria amada..."

Urubus, cães e gatos- crônica



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaxPf5YUZMEeK3EksKcBdrorWqunnn9CN39AIDmToc7IHaUyvcEloOtNj-N6vP3BqlRct4K5OVjk5MUjZQ2-ynOlE4f8L8ao8RMMkeFcfu_jFwEtDQ1FApFOqsk12THJuvmg5F5w/s1600/animais-urubu-da21db.jpg





Outro dia, Zé Miguel, que é o faz tudo no condomínio, olhou para mim, de alto abaixo, e disse: - D. Elianne, a senhora está mais forte. Está de férias? Benzadeus! Tive que rir- odeio ser gordinha, realmente estou com um ou mais quilos- os braços e peitos aumentam logo- M! Dei um tempo no Pilates por causa da cirurgia- agora melhor voltar no início do mês.

A faxineira, que chama o Dersu de Zona sul, ontem quando o viu, disse: - Seinfeld! Rimos muito porque Seinfeld é o gato e ela nunca havia acertado o nome. Chama-o de outros nomes, Chambinho, ou coisa parecida.
Ontem queixou-se muito da casa grande. repetiu muitas vezes, que precisava sair na hora- sempre mando-a sair às cinco, mas se enrola- passa pano na casa mais de uma vez e tal. Digo para deixar a varanda- lavo quase todos os dias- mas, não, é obsessiva, TEM que fazer. Como falou que aqui é longe e tal, vou deixá-la à vontade para ir embora. Tem outras faxinas em lugares menores para limpar- ‘apertamentos’ – e fico com pena dela- tem que voltar correndo porque a mãe está com Alzheimer e não está fácil- foge. Na casa eu a ajudo muito, mas, quer fazer tudo num dia. Bom, até sugeriu que eu me mudasse. Da janela mostrou um prédio em construção e disse que vai ficar lindo rs. Pode ser que eu canse da casa, mas atualmente estou curtindo os espaços todos- inclusive o jardim.

Ontem vimos nas dunas urubus fazendo sexo. Abrem as asas enormes em movimento- íamos filmar, mas acabou a corte logo, foi rapidinho, ou eu vi quando estava no final. Dan riu muito. Seriam urubus ou abutres? Muito grandes.

Pois é, a grama amanheceu cheia de mini formigueiros, ainda não sei se é- o Zé Miguel acha que pode ser reação a algum produto que o jardineiro possa ter colocado- cortou estes dias a grama. Tomara.

Sonhei com Sônia Braga, misturando a sua imagem com a de Gal Costa... um sonho perturbador. Ontem a atriz, se comunicou comigo no FB- ela faz isso com todos que dizem algo lá.

Nosso PC perdeu a placa de vídeo- compramos outro computador. Meu laptop está sem querer pegar a conexão. Não vai dar para comprar mais nada este mês. Estou escrevendo aqui e sofrendo para entrar na internet- uso o dos meninos quando não consigo aqui.

Podem mandar energias positivas, viu?

sábado, maio 18, 2013

Cuándo se entra en la vejez- Quando se envelhece- J. Saramago






Fragmento de Cuadernos de Lanzarote II (1996-1997)

"Se entra en la vejez cuando se tiene la impresión de ocupar cada vez menos lugar en el mundo. Durante la infancia y la adolescencia creemos que él es nuestro y que existe para ser nuestro, en la madurez comenzamos a sospechar que no es del todo así y luchamos para que lo parezca, se comienza a ser viejo cuando se comprende que nuestra existencia le es indiferente al mundo. Claro que siempre lo había sido, pero no lo sabíamos."

Daqui.

Eu discordo. Concordo que nos sentimos velhos quando não há mais espaço, ou deixamos de ter importância, no meio familiar, no trabalho... Mas, sei, também, que minha existência tem, e teve(para aqueles amados que se foram, ou clientes que passaram pela minha vida), sentido para muitas pessoas- filhos, amigos, amores, clientes.
O que Saramago diz é, no meu ponto de vista falso, porque ele foi, e é, considerado por muitos um dos maiores escritores da nossa língua- bastante importante sua existência. :)

quinta-feira, maio 16, 2013

Alain Delon, nostálgico





"O célebre galã francês reconhece que é um homem nostálgico que frequentemente olha para o passado e diz que não teme a morte porque é a única certeza de uma existência, que agora gira em torno de seus netos e seus filhos. "O mundo atual não me agrada demais. Nada me excita realmente e eu era uma pessoa apaixonada. O que me falta é vontade, paixão. Mas vou despertar, talvez", declarou. Alain Delon"

Ele poderia estar atuando.  Mundo cruel. velhos não têm espaço- apenas uma minoria.

Infelizmente, sinto o mesmo. Procuro curtir os filhos, as plantas, o trabalho. Não passo o dia à toa- não paro- apenas descanso e volto às atividades- mas não vejo graça, nem há mais paixão em mim.

Amor- Chico Buarque

terça-feira, maio 14, 2013

Mulher





Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou. Adélia Prado

Amor e morte



Foto impressionante. Daqui.

segunda-feira, maio 13, 2013

"Et Si On Vivait Tous Ensemble". 2011








Hoje, depois de algumas horas de 'dona de casa', sentei e vi "Et Si On Vivait Tous Ensemble". 2011
( E se vivêssemos todos juntos?).

Um dos melhores filmes que vi sobre velhos(detesto a expressão terceira idade ou melhor idade), Um grupo de amigos, dois casais e um homem solitário, sentem a fragilidade do envelhecimento e pensam na possibilidade de viverem juntos. Aparecem conflitos, mas o filme é leve e ao mesmo tempo nos entristece, sem grande dor. É bastante realista.

Um filme que todos deveriam ver- os jovens para terem uma visão mais ampla da velhice- há sexualidade, desejos, amor, solidariedade.

Um filme inteligente, boa estória, densa e com humor.

Gostei de rever Geraldine Chaplin- há muito não a via- desde os filmes de Saura, acho. Jane Fonda faz a senhora mais elegante, claro, mas está bem.

Todos os atores excelentes. Muito bom. Recomendo.

quarta-feira, maio 08, 2013

Rir é o melhor remédio:

Rir é o melhor remédio:






I

Outro dia sai do consultório às 22 hs. Como fiz a cirurgia nos olhos, ainda estou muito sensível à luz, uso óculos escuros quase o tempo todo.
Dez da noite, só há os seguranças no prédio. As luzes das lojas estão apagadas, todos se foram. Subo uma escadinha em direção ao pátio- que tem iluminação- onde está o carro e digo para o rapaz:
- Que escuro que está hoje! (Imediatamente percebo que estou de óculos escuros- mas não digo nada- o segurança se dirigia ao portão para abri-lo. Deve ter rido sozinho, como eu.).

II

Ligo para a lojinha que entrega água mineral em casa, digo:
- Bom dia! Pode me mandar duas águas H. Stern? (Percebo o erro e corrijo):
- Dois garrafões da Ster Bom*, por favor.
E fico rindo sozinha. O moço do outro lado nem sonha o que é H. Stern.

Rs ai ai Só rindo da minha maluquice.

* Empresa que fornece água e sorvete aqui em Natal.

Paixões III. Amores brutos- Rimbaud e Verlaine.

























21/07/2005- Arquivo.

Paixões III Rimbaud e Verlaine.

Continuo lendo o livro “Paixões” . É impressionante a vida de Rimbaud. Já havia lido algumas coisas antes, mas desta vez prestei mais atenção.´

Imaginem uma vila na França, Charleville, 1854, foi ai neste lugar bucólico que nasceu Rimbaud. Filho de camponeses,, o pai abandonou a mulher e 4 filhos quando ele estava com seis anos.
Nunca mais viu o pai.

A mãe tinha irmãos bastante desequilibrados e era estranha-  não demonstrava afeto, era frustrada e vivia à beira da loucura. Foi neste ambiente que ele cresceu.

Aos 13 anos, já se destacava na escola pela precocidade e inteligência e começou a se interessar por poesia. Era um aluno terrível e os professores premonizavam que seu futuro seria incerto, provocava medo e estranheza.

Vivia esta adolescência difícil quando os alemães invadiram a vila. Em Paris havia a rebelião da Comuna, caos exterior e Rimbaud foi invadido por este mundo em conflito.

Fugiu três vezes e na terceira vez em 1871 foi para Paris sem um tostão. Remexia lixos para achar alimentos, vestia-se como mendigo, andava com um cachimbo na boca virado ao contrário.

Acabou voltando para sua vila e leu muito nesta época, não saia da biblioteca. Criou a Teoria Literária do Vidente em que o poeta era o transmissor, um tradutor da divindade. Acreditou estar se fundindo com Deus ajudado pelo álcool e drogas, além de magia que era o que mais lia.

Neste ano, no verão, resolveu escrever para Verlaine que já era autor consagrado. Verlaine, tinha 27 anos, era filho único de um oficial do exército, muito feio e bissexual. Havia acabado de se casar por insistência de sua mãe com uma jovem burguesinha de 17 anos. Quando leu os poemas de Rimbaud, ficou encantado e mandou dinheiro para que ele fosse ao seu encontro em Paris.

Rimbaud foi parar na casa dos sogros de Verlaine que acreditaram estar recebendo alguém especial. Chegou sujo, cabeludo, malcheiroso e impressionou mal a todos, menos Verlaine que se encantou com o jovem com beleza diabólica - tinha olhos claros belíssimos e um rosto encantador.

A convivência com a família ficou difícil, ele foi embora e dias depois Verlaine o encontrou vagando pela cidade. Alugou um quartinho para ele. Aqui começa a história de amor e violência dos dois.

Eram completamente loucos um pelo outro, viviam bêbedos e em brigas terríveis. Culminou com um tiro dado por Verlaine contra Rimbaud que ameaçava ir embora,

Verlaine foi preso, Rimbaud foi expulso da Bélgica, onde viviam na ocasião, Verlaine havia deixado a mulher para trás sem avisar e foi condenado a dois anos de trabalhos forçados e se viu rejeitado pelos amigos poetas.

Rimbaud escreveu e publicou “ Uma temporada no inferno”, mas foi ignorado pelo meio literário. Em novembro de 1875 queimou seus manuscritos e nunca mais escreveu.

Voltaram a se ver uma vez mais na Alemanha- estavam sóbrios-  mas se amaram e beberam tanto que acabaram numa briga brutal onde Rimbaud deixou Verlaine sem sentidos a beira do rio Neckar.

Verlaine a partir daí passa a ter uma vida mais normal, mas acaba voltando a beber depois da morte da mãe e morre aos 52 anos, sifilico e completamente só.

Rimbaud, aventureiro, vai para a África, trabalha em cultivo de café, depois se transforma em traficante de armas. Bebia apenas água e comia pouco, era enigmático, largou a literatura para tornar-se, ele próprio, personagem.

Em 1891, em plena África aparece um tumor no joelho diagnosticado como câncer, foi amputado, sofria dores terríveis, chorava o dia todo. Morreu aos 37 anos.

Os dois no final da vida disseram:
- “Que se dane a poesia, que se dane a glória”.

Aqui há um trecho de um diário de Rimbaud no fim da vida.


A eternidade.

Rimbaud

Tradução: Augusto de Campos

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.




L'ETERNITÉ

Elle est retrouvée.
Quoi? – L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

Âme sentinelle,
Murmurons l'aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.

Des humains suffrages,
Des communs élans
Là tu te dégages
Et voles selon.

Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s'exhale
Sans qu'on dise: enfin.

Là pas d'espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.

Elle est retrouvée.
Quoi? – L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

[Mai 1872]


Foto Rimbaud



segunda-feira, maio 06, 2013

sábado, maio 04, 2013

quinta-feira, maio 02, 2013

Rimbaud - o rebelde (revista Cult)






Rimbaud aspirava à síntese de rebelião e revolução e queria a liberdade total e intransitiva.
Sua obra foi marcada pelo inconformismo absoluto

       Claudio Willer

Leia o texto na íntegra aqui.

Contardo Calligaris- Depois de maio








Por sorte, não perdi "Depois de Maio", de Olivier Assayas.

Nas últimas semanas, eu tinha visto o trailer repetidamente, e imaginava que o filme me aborreceria com um amontoado de chavões ideológicos, ou seja, daquelas frases que, em Maio de 1968, estofavam nossos peitos e, hoje, são inertes, quase desprovidas de sentido.

Ora, tanto na nossa vida quanto na história coletiva do século 20 e 21, Maio de 68 e os anos 1970 foram muito mais do que as convicções e as palavras de ordem da luta política.

Claro, na época, nada nos parecia mais importante do que o sucesso ou o fracasso daquelas convicções. Mas fazer o quê? Foi assim: saímos à rua para fazer uma revolução e acabamos fazendo outras, que não eram previstas, mas talvez fossem melhores do que a que tínhamos planejado.

Não estou falando da revolução nos costumes e na tolerância das diferenças. Falo de outra revolução ainda, que, nos últimos anos, começou a ser contada, indiretamente, nos filmes que tratam de Maio 68.

Os melhores, para mim, eram "Os Sonhadores", de Bernardo Bertolucci, e "Amantes Constantes,", de Philippe Garrel. Agora há "Depois de Maio", de Olivier Assayas, que não é apenas o filme sobre Maio que mais me tocou até hoje. É também um dos filmes (sobre Maio ou não) que mais me tocaram nos últimos anos.

Assayas é mais jovem do que eu. Eu tinha 20 anos em 68; ele tinha 13. Mas ambos fomos jovens nos anos 1970 na França; eu estava, por exemplo, nas manifestações de setembro de 70, durante a greve de fome de Alain Geismar.

Há uma pergunta que se colocam quase todos os que viveram "de dentro" Maio 68 e os 1970: o que eu fiz que, assim como eu sou hoje, eu não faria? E ter me transformado, isso é bom ou ruim?

No filme "Depois de Maio", é citado um grande poeta beat dos anos 1950. Em "Gasoline", de Gregory Corso, há um poema ("Tenho 25 Anos"), em que, depois de evocar os poetas que morreram jovens (Shelley, Chatterton, Rimbaud), Corso declara que ele odeia os velhos poetas, "especialmente os que se retratam" e que contam sua juventude sussurrando: "Eu fiz aquilo então, mas isso foi então".

Desses velhos poetas, Corso quer arrancar a língua fora, para que parem de se desculpar.
Será que sou um desses velhos poetas? Vistos de hoje, aqueles dias me parecem uma comédia de erros? E, se não foram, qual foi seu valor?

É que aqueles dias e anos inventaram um novo hedonismo da vida (que talvez já tenha sido perdido, de novo): era um prazer de viver, mas cuidado --levando a vida extremamente a sério. Esse prazer tinha a ver com o quê?

Por exemplo, com uma custosa fidelidade ao desejo da gente, que fosse de ser pintor, militante ou perdido nas drogas.

Ou ainda, com uma extraordinária densidade cultural, uma raiva de ler e estudar, como se colocar as questões certas fosse a condição para viver a vida intensamente.

Em 1970, num seminário de literatura inglesa contemporânea, na Universidade de Genebra, cada
estudante foi convidado a apresentar um autor preferido. Escolhi Gregory Corso. No meio da exposição, me empolguei e confesso que atribui a Corso, como se fossem dois versos de um poema dele, as primeiras linhas (memoráveis) de um romance de espionagem de Len Deighton, que eu acabava de ler.

Por sorte minha, ninguém parecia conhecer nem Corso nem Deighton, e não fui desmascarado.
O começo de "An Expensive Place to Die", de Len Deighton ("O Preço da Morte", Nova Fronteira), tinha se tornado meu hino pessoal à vida que se justifica por si só, pela aventura que ela é. Deighton começa assim: "The birds flew around for nothing but the hell of it" (o sentido é: os pássaros voavam pelo céu pelo puro prazer de voar --mas em inglês é muito melhor).

O filme de Assayas fala do prazer da vida levada a sério em duas sequências magníficas e surpreendentemente longas: a abertura, com os estudantes fugindo de um ataque da polícia, e uma pichação noturna, também com fuga dos estudantes perseguidos pelos vigias.

Nessas cenas, há o fôlego dos estudantes e dos policiais, que correm, há o fôlego do cineasta que consegue manter a sequência, há o fôlego dos espectadores e há, enfim, mais um fôlego, do qual talvez todos precisemos: é o fôlego de se levar a sério, ou seja, por exemplo, de ousar ir às ruas, pelo prazer de declarar o que a gente pensa, desafiando o medo.

quarta-feira, maio 01, 2013

Contardo Calligaris- Jovens delinquentes- 18/04/2013



'Prisões' de menores já têm lista de espera



Na noite de terça-feira passada (dia 9), em São Paulo, Victor Hugo Deppman, estudante de 19 anos, foi assassinado. As câmeras mostram que ele entregou seu celular, e o assaltante o matou sem razão, com um tiro na cabeça.
O criminoso se entregou à polícia declarando que faltavam dois dias para ele completar 18 anos. Com isso, pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), aos 20 anos e 11 meses no máximo, ele voltará a circular. A gente não pode nem deixar anotado o nome do assassino, para mantê-lo afastado de nossas vidas futuras: por ele ser menor, seu anonimato é preservado.
É assim que protegemos o futuro do criminoso, para que, uma vez regenerado pela mágica de três anos de internação (alguém acredita?), ele possa facilmente reintegrar a sociedade e ser um cidadão exemplar, nosso vizinho.
Obviamente, nos últimos dias, multiplicaram-se os pedidos de revisão do próprio ECA. Marcos Augusto Gonçalves (na Folha de segunda) observou que, na boca dos políticos, esses pedidos escondem décadas de descaso em matéria de segurança pública. Concordo. Mas, como não sou político, não vou deixar de discutir, mais uma vez, o estatuto do menor.
Por exemplo, sou a favor de baixar a maioridade penal, drasticamente, como acontece no Reino Unido, no Canadá, na Austrália, na Índia, nos Estados Unidos etc. --sendo que, na maioria desses lugares, o juiz tem a autonomia para decidir por qual crime um menor de 12 ou dez anos será, eventualmente, julgado como adulto.
Hélio Schwartsman (na página 2 da Folha de sexta passada) aconselhou prudência: seria melhor não "legislar sob forte impacto emocional" e, sobretudo agora, confiar apenas nas "considerações racionais". Ele quase me convenceu, mas...
1) Penso isso há muito tempo.
2) Se deixássemos de agir sob impacto emocional, nunca nada mudaria. Por exemplo, o conselho de esperar para que as emoções esfriem é o argumento dos fabricantes de armas a cada vez que, nos EUA, um exterminador invade uma escola e o Congresso propõe leis de controle das armas. Os fabricantes de armas querem que esperemos para quê? Pois é, para que a gente se esqueça e se desmobilize.
3) Conheço só uma consideração racional a favor da maioridade penal aos 18 anos, e ela não é boa: o córtex pré-frontal (zona do cérebro que controla os impulsos) não está totalmente desenvolvido na infância e na adolescência.
Tudo bem, se aceitarmos essa consideração, deveríamos aumentar seriamente a maioridade penal, pois o córtex pré-frontal se desenvolve até os 25 anos ou além. Além disso, deveríamos julgar como menores todos os adultos impulsivos, que nunca desenvolveram um córtex pré-frontal "satisfatório".
4) As outras "considerações racionais" (que deveriam prevalecer sobre o impacto das emoções) são apenas disfarces de emoções especificamente modernas que, à força de serem compartilhadas, se tornaram chavões ideológicos.
Três deles são corolários de nossa "infantolatria", ou seja, da paixão narcisista que nos faz venerar crianças e jovens porque, graças a eles, esperamos continuar presentes no mundo depois de nossa morte.
Primeiro, queremos que as crianças nos apareçam como querubins felizes como nós nunca fomos e nunca seremos. Por isso, preferimos imaginar que os jovens sejam naturalmente bons. Quando eles forem maus, atribuímos a culpa à sociedade e a nós mesmos. Portanto, não podemos puni-los, mas devemos, isso sim, nos punir.
Tendo a pensar o contrário: as crianças podem ser simpáticas, mas são más (briguentas, possessivas, invejosas, mentirosas, ingratas etc.); às vezes, elas melhoram crescendo, ou seja, a cultura pode civilizá-las (ou piorá-las, claro).
Segundo, adoramos acreditar que sempre podemos mudar (para melhor, claro): apostamos que a liberdade do indivíduo permita qualquer reviravolta --até a salvação eterna pelo arrependimento na hora da morte. A possibilidade de os criminosos (ainda mais jovens) se redimirem confirma nossa crença querida.
Terceiro, acreditamos também na fábula da reciprocidade amorosa: quem ama será amado. Se forem bem tratados e se sentirem amados e respeitados, os jovens se emendarão. É só confiar neles, deixá-los impunes e lhes oferecer castiçais de prata, como o padre que presenteia Jean Valjean.
Meus amigos, "Les Misérables" é lindo e comovedor, mas é um romance, ok? Na outra noite, no bairro do Belém, teria sido melhor que aparecesse Javert.


Artigo da Folha de São Paulo.

 
18/04/2013